O inimigo somos nós
O filme Tropa de Elite 1, é uma ficção inspirada no best-seller Elite da Tropa. Nele nos foi supostamente mostrado, em cenas fortes, o funcionamento do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), além de atividades que este exercia contra o tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro.
O cineasta José Padilha, diretor do longa, declarou ter se impressionado com a reação popular ao filme. Segundo ele, o filme é uma crítica clara contra a violência e a tortura e não um suporte à violência policial. Wagner Moura, ator principal, disse duvidar que moradores de países como Finlândia ou Suíça veriam tais policiais como heróis, ao passo que muitos brasileiros claramente nutrem um certo respeito pelo Capitão Nascimento.
Já o segundo filme da série, intitulado Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro, trata de um assunto diferente que está intrinsecamente ligado a diversos aspectos de nossas vidas: a política e a sua “irmã gêmea”, a politicagem.
Desde o início do filme é abordado o péssimo hábito que os políticos tem de fazer o que o mainstream propõe, e isso leva o personagem principal ao cargo de Subsecretário de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro. De forma rápida, Nascimento consegue articular o BOPE e, com isso, diminui drasticamente o tráfico de drogas no cidade do Rio de Janeiro. Porém, ao contrário do que Nascimento esperava, isso não enfraqueceu o sistema socio-político, pelo contrário: os agentes públicos que se beneficiavam do tráfico, integrantes da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, perdem sua principal fonte de lucro e passam a formar milícias, agindo diretamente nas ruas sem o intermédio de traficantes, o que se mostra muito mais rentável.
Deste ponto em diante são brilhantemente mostradas várias estratégias adotadas por pessoas com forte influência na mídia, como se pode constatar ao comparar o filme com o texto de Noam Chomsky sobre manipulação midiática. Dentre estas estratégias definidas por Chomsky, encontrei estas no filme:
- A estratégia do deferido: É utilizada, por exemplo, para convencer a opinião pública de que uma invasão do BOPE em uma determinada região é forte, porém necessária.
- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade: Usada por um apresentador de TV, político e corrupto, para fazer seus telespectadores “assimilarem mais facilmente” suas idéais absurdas.
- Utilizar o aspecto emocional muito mais que a reflexão: Esta característica, ao meu ver, é extrema e incansavelmente utilizada, não só no filme, mas em diversos canais das mídias. No filme, esta abordagem é exibida em programas de televisão, em relações políticas e interpessoais, e até em interrogatórios.
- Manter o público na ignorância e na mediocridade: Essencial para um controle efetivo da massa: não a deixe, ou incentive a, obter conhecimento.
- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem: Em Tropa de Elite 2 foi mostrada várias vezes, ao se prever a opinião pública quando influenciada por algo, fatídico ou não.
Tropa de Elite 2, se mostrou bem focado no seu tema. Enquanto eu o assistia não pude conter o espanto de ver ali um filme voltado para a massa, para o ‘ser pop’, e que, contrastando com o comum, visava informar e formar opiniões; incutir na mente dos cidadãos a responsabilidade que se tem ao votar, ao eleger um político. IMHO, é fato que um político precisa arrecadar boas opiniões acerca de si, de suas idéias, mas parece que poucos veêm que isso significa agradar a maioria, oras desde quando a maioria sabe realmente do que precisa[0]?! Agradar a maioria significa mudar de opinião durante as eleições (vide o tema aborto, ?debatido? em 2010), significa não fazer o que é melhor simplesmente por não ser correspondente a opinião “pública”, e o pior, que venho constatando nesses quase dois anos de serviço público: agradar a maioria significa mostrar serviço o que muito difere de fazê-lo efetivamente.
Em tudo isso penso quando vejo ativistas, que supostamente tem conhecimento da importância da política, fazendo campanha para determinado candidato. O que, efetivamente, o partidarismo rende para a sociedade? Até que ponto é vantagem levantar bandeiras partidárias, quando o simples fato de empunhá-las desacredita os teus ideais perante os “adversarios”? Alguns podem defender que o partidarismo (não chamado assim, claro, é doloroso em demasia) pode levar as boas idéais de uma pessoa/grupo/comunidade a serem aplicadas enquanto política pública, mas me pergunto: isso não seria a mais pura politicagem? Na ânsia de melhorar o sistema político, não se estaria dando continuidade ao movimento das engrenagens podres do sistema atual?
Enfim, após assistir este filme fiquei bastante emocionado: entrei no cinema para assistir um blockbuster e saí de lá com mil idéias. É muito bom saber que este filme foi visto por mais de 10 milhões de pessoas. Espero agora, que esse enorme contingente também venha a pensar e refletir, profudamente, acerca do sistema que ajudamos a manter.
[0] Nota: não gosto de utilizar frases prontas por, na maioria das vezes, elas serem utilizadas sem se pensar; porém, esta é bem colocada, ao meu ver, no decorrer do texto.
Nota: É amplamento divulgado diversas notícias de, no mínimo, um ator de Tropa de Elite 2 manifestando apoio a políticos, isso, ao meu ver, é o lado ruim de um filme: o que se está lá é ficção, os atores apenas interpretam.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tropa_de_Elite
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tropa_de_Elite_2:_O_Inimigo_agora_%C3%89_Outro